Comércio ignora gays e perde dinheiro

“Pink money” (dinheiro cor-de-rosa) é a expressão utilizada nos Estados Unidos para tratar do lucro oriundo do consumo dos gays. A existência do termo já demonstra como, naquele país, os homossexuais são vistos como um segmento de mercado em crescimento. No Brasil, São Paulo também explora este nicho de mercado. Já em Pernambuco, empresas deixam de faturar milhões porque não sabem ou não querem direcionar produtos e serviços a um público que, via de regra, tem um bom poder aquisitivo e adora consumir.
Uma pesquisa realizada, em 2005, pela Mulyran/Nash, de Nova Iorque, especializada no mercado de gays e lésbicas, estimou a existência de 10 a 15 milhões pessoas prontas para gastar um total de US$ 200 bilhões a US$ 300 bilhões por ano. Em São Paulo, são comuns pacotes de viagem específicos para esse público e lá existe a maior parada gay do mundo, que movimenta quase R$ 200 milhões, segundo números da prefeitura. No Recife, a realidade é outra. Durante a parada da diversidade, realizada há duas semanas, não foram registrados nem aumentos no número de hospedagens dos hotéis.
O jornalista Adriano Pádua fez uma monografia para a conclusão do seu MBA em marketing na UPE, sobre a capacidade econômica do potencial gay no mercado consumidor do Recife e as estratégias de marketing para atrair esse mercado. “O trabalho serve como alerta para o empresariado que, em sua maioria, ignora esses consumidores por puro preconceito”, destaca.
A partir de questionários respondidos pela internet, ele chegou a conclusão de que “os LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) têm alto poder aquisitivo se comparados ao resto da população. Eles ainda se destacam pelo nível de escolaridade, pela valorização acima da média do segmento de moda, turismo e diversão”.
Para o presidente do movimento Leões do Norte, Wellington Medeiros, o Recife tem muito espaço para empreendimentos voltados ao segmento. “Muitos bares e restaurantes GLS (gays, lésbicas e simpatizantes) cobram caro porque falta concorrência. Não são muitos os ambientes que o gay pode ir e se sentir a vontade com o parceiro.”
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-PE), José Otávio Meira Lins, é proprietário do Cult Hotel, no Pina. Segundo ele, o empreendimento pode ser classificado como “friendly”, ou seja, aberto a todos. “Os gays formam um público muito bom, viajam muito e gastam mais do que os demais”, afirmou. O hotel é um dos poucos do Recife que tem um roteiro de turismo específico para o segmento.
Comerciantes do bairro da Boa Vista, ponto de encontro GLS (ver matéria ao lado), reconhecem o potencial de consumo desse público formado por uma maioria que não tem filhos e, assim, com menos despesa. Segundo a gerente de uma loja de cosméticos da região, Dyana Mota, eles são responsáveis por boa parte do lucro da empresa. “O horário em que vendemos mais é na sexta-feira a noite, porque eles se maquiam aqui e vão para as boates. As mulheres compram mais do que os homens e os travestis compram mais do que elas”, diz ela.
A questão é polêmica. Alguns vêem a falta de espaço para exploração desse mercado como preconceito. Outros, ao contrário, afirmam que o preconceito consiste em segmentar as vendas. O estudante de turismo Diego Muniz, de 21 anos, é homossexual e vê a ampliação do mercado para os gays como uma faca de dois gumes. “É natural que homossexuais queiram mais ambientes onde se sintam a vontade. Por outro lado, se queremos tanto igualdade como podemos nos excluir?”, questiona. Para ele, já existem empreendedores que abusam da exploração desse mercado. “Não vejo diferença entre um cruzeiro gay e um heterossexual, mas no preço, um é uns 20% mais caro do que outro”, completa.
Pesquisas do banco de dados da Embratur, realizadas por agências de viagens, definem o turista LGBT como indivíduos solteiros, sem filhos e que pertencem às classes média e alta. As despesas mensais fixas são mais baixas que a de heterossexuais, o que aumenta significativamente seu poder de compra e os torna consumidores em potencial. Além disso, o turismo LGBT cresce 20% ao ano em todo o mundo. De acordo com a presidente da Embratur, Janine Pires, esse é um consumidor que normalmente faz mais de uma viagem por ano. “Da mesma forma que trabalhamos com operadoras ligadas ao ecoturismo, também temos as operadoras voltadas para esse público. Nós procuramos mostrar lá fora como o Brasil é um país acolhedor das diversidades”, explica.
Maria do Céu é proprietária da boate Metrópole há seis anos, na Boa Vista. Ela também já foi dona de estabelecimentos héteros e acha que o Recife comportaria mais ambientes LGBT. “Trabalho com o público gay por causa do preconceito mesmo, não porque dê mais dinheiro. É um segmento emergente de consumo, não é o maior, mas cresce”. Para ela ainda há muito o que se investir principalmente na área de turismo. “Os gays viajam muito, isso é notório, acho que é pelo fato de muitos não constituírem família”, disse ela. Segundo o barman da boate Bruno Montarroyos, o movimento é sempre grande na boate: “nas noites mais movimentadas chegam mais de 1.000”.
Fonte: JC Online
Postagem: Luciana Rodrigues - Editora do Espalha Fato
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