Gays fazem "casamento" comunitário
Simbolismo - Cerimônia é simbólica e vai marcar a luta contra a homofobia no Brasil e no exterior
Um casamento comunitário para celebrar o que ainda é ignorado pela legislação brasileira. Casais homossexuais vão se reunir durante o Fórum Social Mundial de 2009, que começa no próximo dia 27, em Belém, para participar de uma grande festa de casamento simbólica, que marcará a luta contra a homofobia dentro e fora do Brasil.
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A união homossexual com os mesmos direitos que o casamento entre homem e mulher é um projeto que está desde 1996 na pauta do Congresso Nacional. Foi apresentado pela então deputada federal Marta Suplicy (PT). Mas nunca foi votado pelos parlamentares.
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Independente de ser regido por lei, milhares de casais no Brasil, já vivem sobre o mesmo teto há muito tempo, mas ainda não podem usufruir dos direitos de uma união estável. A universitária Janaina Oliveira e a companheira dela Daniele Brígida vão participar da celebração e esperam que o Fórum Social Mundial consiga sensibilizar a sociedade para compreensão da liberdade sexual. 'Hoje sinto que a sociedade nos tolera. E não quero ser tolerada, quero ser respeitada. Pago meus impostos como qualquer pessoa e não sou anormal', diz Janaina.
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Ela lembra que vencer esse preconceito é uma tarefa difícil, pois o primeiro obstáculo está na família. 'Cheguei a ser expulsa de casa e ainda hoje minha família, que é muito católica, não aceita com naturalidade. Minha mãe não diz para os outros abertamente que tenho uma companheira', conta a universitária.
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Quem ainda não teve coragem de assumir a homossexualidade diante da família espera que a troca de experiências durante o Fórum Social Mundial facilite o diálogo. 'Minha irmã é a única que sabe, mas contei através de depoimento postado no Orkut e nunca falei pessoalmente sobre isso. Tenho medo que mudem o comportamento. Espero que o Fórum contribua com mudanças práticas, principalmente em Belém que é uma cidade muito provinciana', diz a estudante Rafaela (o nome é fictício).
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A Holanda foi o primeiro país a aceitar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, que é legalizado nos Estados americanos da Califórnia e Massachusetts, além da Bélgica, Espanha, Noruega, Canadá, África do Sul e a Grã-Bretanha.
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O casamento é apenas uma das programações realizada pelo Movimento de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais e Travestis (GLBT) de Belém. O grupo ainda vai lançar no próximo dia 28 uma campanha internacional pela aprovação do Projeto de Lei (PL) 122/2008, que dispõe sobre a criminalização da homofobia. No dia 31, pretendem realizar a 1ª Marcha pela Livre Opção Sexual.
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O coordenador da organização não-governamental (ONG) Cidadania, Orgulho e Respeito (Cor), integrante do GLBT, Marcelo Carvalho, diz que a hora é de reivindicar direitos e enfrentar a insegurança e o desrespeito. 'Um homossexual tem medo de entrar em uma delegacia, porque a abordagem é sempre constrangedora. É como se falassem 'você é culpado por que é homossexual', declara. O PL 122/2008 quer tornar crime a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero, com a pena, reclusão e aplicação de multa.
Aliança - Entidades, organizações sociais e movimentos por libertação e igualdade de direitos também terão um dia inteirinho dedicado a eles durante o Fórum Social Mundial 2009,
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No dia 1º de fevereiro, último dia do FSM Amazônia, ocorrerá o Dia das Alianças, que será dividido em dois momentos.
Pela manhã serão organizadas as assembléias entre as redes e entidades com temas e lutas afins, que deverão elencar propostas concretas sobre as campanhas, manifestações ou qualquer outra atividade, ação ou reflexão que deverão continuar para além do Fórum.
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À tarde, durante a Assembléia das Assembléias, haverá a leitura das propostas e encaminhamentos com os resultados de todas as assembléias ocorridas durante o turno da manhã. Será um evento público com início previsto para as 15 horas, dando visibilidade às propostas concretas dos movimentos participantes do FSM.
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Na Assembléia das Assembléias a apresentação dos resultados das convergências será intercalada com atividades artísticas e culturais, marcando o encerramento do FSM Amazônia 2009.
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Solidariedade - Pensando na participação política e também presencial de grupos e organizações, foi criado um Fundo de Solidariedade que visa garantir a vinda dessas delegações a Belém, sede do FSM, entre 27 de janeiro a 1º de fevereiro.
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O 'fundo' é financiado por organizações internacionais e nacionais e foi criado com objetivo de ajudar a participação equilibrada, de povos indígenas e tradicionais, e de organizações e entidades de países que historicamente não faziam parte do processo do Fórum, e que passaram a participar desde o dia de Ação Global, em janeiro de 2008. Para o Fórum de Belém espera-se a participação de mais de 3.000 índios e índias de todo o mundo. A se confirmar a participação dos inscritos, será o maior número de indígenas já registrados no Fórum Social Mundial.
Postagem: Thiago Carvalho - Repórter do Jornal Espalha Fato
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