Versão gay de Romeu e Julieta causa polêmica em escola



Uma versão homossexual da clássica peça Romeu e Julieta, de William Shakespeare, causou uma discussão no Parlamento britânico nesta última quinta-feira. A peça Romeu e Juliano foi reescrita pelo professor de teatro de uma escola do leste de Londres e encenada por alunos adolescentes para marcar o Mês Histórico de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros, em fevereiro.

A apresentação irritou o parlamentar Philip Davies, do Partido Conservador, que disse que o fato foi "inacreditável". "Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso gostaria que seus filhos aprendessem sobre Romeu e Julieta e não sobre Romeu e Juliano", afirmou Davies em discurso na Câmara dos Comuns.

Ele também representa a Campanha contra o Politicamente Correto no Parlamento. "Acho preocupante que essa obra-prima da literatura seja usada para esse propósito politicamente correto", concluiu.

“Legítimo”

Já a líder da Câmara dos Comuns, Harriet Harman, do Partido Trabalhador, lembrou o colega Davies que na época de Shakespeare muitos personagens femininos eram interpretados por homens e vice-versa. "Vamos realizar um debate na próxima semana para discutir a nova proposta para a legislação da igualdade. Assim, poderemos assegurar que todas as pessoas deste país sejam tratadas com justiça e respeito, e não sejam submetidas ao preconceito, à discriminação, e a comentários baratos como o seu", disse ela a Davies.

Para o professor Stanley Wells, diretor do Shakespeare Birthplace Trust e o maior especialista em Shakespeare na Grã-Bretanha, é "legítimo" adaptar a obra do autor. "Shakespeare já foi usado e adaptado para servir a vários propósitos ao longo dos séculos", afirmou. "Trata-se de um exercício legítimo encontrar significados para o público de hoje nos mitos e lendas do passado, principalmente se isso ajudar as pessoas a entenderem umas às outras."

A peça também foi defendida pelo ator britânico Ian McKellen (o Gandalf, de O Senhor dos Anéis), que é porta-voz do grupo de defesa dos direitos dos homossexuais Stonewall e que assistiu à apresentação na Leytonstone School. "Fiquei emocionado em ver crianças tentando combater a homofobia", afirmou. "E Romeu e Julieta provoca exatamente o tipo de discussão necessária para abordar os assuntos relativos à homossexualidade."


No Brasil

No Brasil, o autor de novelas Manoel Carlos também já usou o clássico de Shakespeare para falar sobre homossexualidade em uma de suas novelas, Mulheres Apaixonadas – que acabou de ser reprisada no Vale A Pena Ver de Novo -, porém, para retratar um romance lésbico entre as atrizes Alinne Moraes e Paula Picarelli.

O autor reproduziu a cena da morte do casal para que as atrizes pudessem finalmente se beijar. E dessa forma não chocar o telespectador “conservador” das novelas globais. Contudo, Manoel Carlos foi um dos primeiros autores a tratar o homossexualismo com respeito, e não como uma caricatura.


Fonte: BBC

Por: Thiago Carvalho

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