Travesti é um dos mais votados para vereadora em Salvador
A eleição para vereador em Salvador (BA) foi repleta de surpresas. Quase metade dos atuais legisladores - 20, de 41 -, por exemplo, não conseguiu se reeleger. Entre eles está o atual presidente da casa, Valdenor Cardoso (PTC). Além disso, nove candidatos não tiveram nenhum voto - nem o próprio.
Nenhuma surpresa, porém, é maior do que a eleição, como quarto candidato mais votado, de Alecsandro de Souza Santos, o travesti Leo Kret do Brasil (PR), que recebeu 12.861 votos. "Fui eleita por representar os jovens e os artistas", acredita. "Pelo apoio que o povo me deu, este é só o começo da minha carreira. Quem sabe não me candidato a prefeita na próxima eleição?"
O nome Leo Kret, explica Santos, surgiu de Leo, apelido desde a infância, e de "cretina", como era chamada no início da carreira de dançarina. Ele afirma que quer fazer a cirurgia para mudar de sexo e registrar o pseudônimo artístico. Não gosta, porém, de dizer a idade. Alcançou o sucesso na cidade como dançarina do grupo de pagode Saiddy Bamba. Afirma ter sido convidado para ser candidato a vereador e sondado para concorrer à prefeitura.
Durante a campanha, foi a principal atração dos comícios dos quais participou, alguns deles ao lado do deputado e candidato a prefeito ACM Neto (DEM). Com discursos divertidos, músicas de duplo sentido e rebolados, arrancou aplausos nos palanques. "Minhas propostas têm relação com o fim da discriminação contra os homossexuais, que ainda é muito forte", afirma.
Léo Kret só teve menos votos que Alan Sanches (PMDB), único a ter mais de 15 mil votos - foram 15.206 -, Sidelvan Nóbrega (PRB), votado 13.915 vezes, e Isnard Araújo (PR), que convenceu 13.887 eleitores. O total de votos brancos para vereador na capital baiana foi 86.109. Os votos nulos somaram 70 868.
Léo Kret do Brasil (nome que será usado em seu gabinete), promete iniciar seu mandato em 1° de janeiro, “quebrando preconceitos”. Ele disse que se recusa a vestir-se como homem e freqüentar o sanitário masculino na Casa, cujas regras são claras: nome masculino no RG, terno e gravata. Leo Kret, ou Alecsandro de Souza Santos, 24 anos, no entanto, disse que será “vereadora”.
“Como eu sou feminina, é assim que o povo me elegeu, é assim que eu quero ficar”, disse. E continua: “Mas pode deixar que vou ficar bem-vestida. Vou usar um tailler, blazerzinho, scarpin todo fechado, cabelinho amarrado”. A polêmica deverá ser decidida entre velhos e novos vereadores, já que a renovação da Casa foi de quase 47% das cadeiras. Mas, por precaução, Léo Kret e sua assessoria já estão coletando assinaturas contra as regras, além de organizar manifestação em frente à Casa, logo na sua posse.
Embora Leo Kret afirme que representa a população GLBT e prometa mergulhar na luta pela criminalização da homofobia – projeto que está engavetado na Câmara desde 1997, O dançarino não pretende deixar os palcos e acredita que ali, nos shows, quem o elegeu poderá encontrá-lo. “Show é mais final de semana. Eu, no palco, vai ser como os eleitores me cobrarem”, disse.
Segundo Keila Simpson, coordenadora da Associação dos Travestis de Salvador (Atras), a candidatura de Kret não se originou da militância gay, mas só o fato de ela ser eleita, já é um avanço significativo, é um passo contra o preconceito”.
Postagem: Luciana Rodrigues - Editora do Espalha Fato
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